PROGRAMA DO CONGRESSO
INTERNACIONAL
A Europa e os Impérios Coloniais dos séculos XVI, XVII e
XVIII na Literatura e no Cinema
Universidade do
Algarve/FCHS
20 e 21 de outubro de
2016
Auditório Teresa Gamito
9:30| Sessão
de Abertura
10:00 | Keynote speaker: (apresentação Jorge
Carrega)
Lúcia Nagib (Universidade de
Reading/UK): “Antropofagia e intermidialidade: usos da literatura colonial no
cinema modernista brasileiro”.
Professora titular de
Cinema na Universidade de Reading, onde dirige o Centre for Film Aesthetics and
Cultures. É autora dos livros: World Cinema and the Ethics of Realism
(Continuum, 2011), A Utopia no Cinema Brasileiro: Matrizes, Nostalgia,
Distopias (Cosac Naify, 2006; versão inglesa: Brazil on Screen: Cinema
Novo, New Cinema, Utopia, I.B. Tauris, 2007), O Cinema da Retomada:
Depoimentos de 90 Cineasatas dos anos 90 (Editora 34, 2002), Nascido das
Cinzas: Autor e Sujeito nos Filmes de Oshima (Edusp, 1995), Em Torno da
Nouvelle Vague Japonesa (Editora da Unicamp, 1993) e Werner Herzog: O
Cinema como Realidade (Estação Liberdade, 1991). É organizadora dos livros:
Impure Cinema: Intermedial and Intercultural Approaches to Film (com
Anne Jerslev, I.B. Tauris, 2014), Theorizing World Cinema (com Chris
Perriam e Rajinder Dudrah, I.B. Tauris, 2011), Realism and the Audiovisual
Media (com Cecília Mello, Palgrave, 2009), The New Brazilian Cinema
(I.B. Tauris, 2003), Mestre Mizoguchi (Navegar, 1990) e Ozu
(Marco Zero, 1990).
RESUMO: Obra maior, mas pouco
estudada, do movimento tropicalista do final dos anos 1960, Como era gostoso o meu francês (Nelson
Pereira dos Santos, 1970-72) recicla os ideais antropofágicos do modernismo
brasileiro dos anos 1920, cuja base se encontra na literatura europeia colonial.
O enredo aparentemente linear do filme versa sobre um francês devorado por
índios tupis no século XVI, ao estilo do relato autobiográfico do aventureiro
Hans Staden que teria escapado por pouco de destino semelhante em viagem ao
Brasil. Mas a tessitura do filme é na verdade uma colagem de materiais diversos
no melhor estilo tropicalista, incluindo não apenas citações do texto de Staden
mas também os desenhos que ilustram a edição de 1557 de seu livro, além de
referências aos escritos de Jean de Léry, André Thevet, Nicolas de Villegagnon,
José de Anchieta, Manoel da Nóbrega, e a poemas e receitas culinárias do século
XVI. Nesta palestra, ireir sugerir que a ausência de hierarquia entre esses
materiais, alinhavados por um hibridismo de mídias, línguas e culturas
europeias e indígenas, confere ao filme um valor político que transcende o
derrotismo reinante na esquerda brasileira naquele momento de auge da ditadura
militar. Ao lado de outras obras modernistas associadas ao tropicalismo, como Macunaíma (Joaquim Pedro de Andrade,
1969) e O bandido da luz vermelha (Rogério
Sganzerla, 1968), Como era gostoso o meu
francês reivindica para o cinema e a arte de seu tempo o direito de
pertencer a um mundo multicultural para além dos limites da nação brasileira, provisoriamente
em poder de mãos erradas.
11:00 |Pausa para café
11:10| Mesa
1: Painel Temático Intermidialidade e
História no Cinema Brasileiro (moderação de Jorge Carrega)
RESUMO: Se é
certo que todo filme é um documento sobre sua época, e que todo tratamento da
História no cinema implica pensar também na história do cinema, não é menos
verdade que neste processo jogam um papel fundamental as distintas formas
expressivas com as quais o cinema se relaciona. A intermidialidade aporta,
neste sentido, uma perspectiva estimulante: não considerar o cinema como espaço
que contém as outras artes, mas como um modo de expressão dialogante que
interseciona constantemente com elas. Os momentos intermédios, in-between, são aqueles que interessam.
Assim, pensar no cinema como escritura ou revisão da História implica pensar,
também, na dimensão histórica das obras pictóricas, das peças teatrais ou das
composições musicais com as quais interaciona. Escrever História com o cinema é
pensar na história do cinema, mas também na história destas artes, e na
história dos seus cruzamentos com as imagens em movimento.
Neste painel queremos discutir esta dimensão
historiográfica mestiça, cruzada, intermidiática, na qual não se trata apenas
do entrelaçamento entre cinema da história e história do cinema, mas também de
uma interseção com a história das cores, a história da música (desde a noção de
tropicalismo) e a história das canções. Trata-se de múltiplas histórias entre
mídias que desvelam, com uma força incontestável, as numerosas camadas
expressivas que toda escritura da História implica.
Stefan Solomon (University of Reading): “Colour Cinema, Colour-Time: From Oiticica to
Glauber”.
Stefan Solomon
é pesquisador pós-doutoral em Cinema na University of Reading, vinculado ao
projeto ‘Towards an Intermedial History of Brazilian Cinema: Exploring
Intermediality as a Historiographic Method’ (IntermIdia), financiado pela AHRC
e a FAPESP. Atualmente está analisando a interação entre o cinema e as artes
visuais nos filmes associados ao movimento da Tropicália, assim como estudando
projetos experimentais contemporâneos no cinema brasileiro. Stefan também
mantém um interesse no trabalho de William Faulkner, e recentemente completou
uma monografia sobre sua trajetória como roteirista em Hollywood.
RESUMO: In 1969, when shooting O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (Antonio das Mortes), Glauber Rocha turned to colour film. Although it wasn’t the first time he’d worked with colour, here Glauber made special use of Eastmancolor technology in bringing to life characters from Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964) that had previously appeared only in black and white. While the choice to switch film stock was in part motivated by a desire for Brazilian films to compete with foreign productions, Glauber also pointed to the similarities between film and painting, and professed an interest in the ‘visual integration of colour with music and dance.’
The intermedial comparison that Glauber offers is an
intriguing one, especially considering the ways in which, at precisely the same
time, visual artists in Brazil were following a different trajectory where
colour was concerned. As Jacques Aumont has observed, the 1960s was a period in
which cinema was struggling to achieve accurate colour representation, while
painting was turning to non-representational, abstract uses of colour. In
Brazil, this was particularly apparent in the work of Hélio Oiticica, then
working on his philosophy of cor-tempo
(colour time), but who would also go on to make and appear in several films,
culminating in his Cosmococas with
Neville D’Almeida.
Following recent work on intermediality and colour by
Sarah Street and Joshua Yumibe, in this paper I will consider the points at
which the colour paths of cinema and the visual arts crossed in Brazil. In
particular, I will analyse Oiticica’s ideas about colour in its pigmentary,
elemental forms, and will suggest that his notion of cor-tempo manifests in a very literal way in cinema, where colour
moves through time.
Samuel Paiva (Universidade Federal de São Carlos): “Confronto de Tropicalismos e
Intermidialidade no Cinema de Pernambuco”.
Samuel Paiva é professor de História e Teoria do
Cinema vinculado ao Departamento de Artes de Comunicação da Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar). É autor de várias publicações, entre outras, A figura de Orson Welles no cinema de
Rogério Sganzerla (2016) e coeditor do livro Viagem ao cinema silencioso do Brasil (2011).
RESUMO: Esta comunicação procura debater a maneira como o
cinema produzido no estado de Pernambuco, no Brasil, nos anos 1990, está
atravessado polemicamente por referências relacionadas a distintas noções de
Tropicalismo. A ideia é investigar como, de um lado, esse cinema confronta
concepções do “Luso-tropicalismo” de Gilberto Freyre, que por sua vez
repercutiu na perspectiva do “Movimento Armorial” proposto por Ariano Suassuna
nos anos 1970, com sua defesa de uma essência mítica, nacional e popular,
vinculada a tradições coloniais do Nordeste brasileiro. Por outro lado, há o
interesse no “Tropicalismo” proposto, nos anos 1960, por artistas tais como,
entre outros, Hélio Oiticica (nas artes plásticas), Caetano Veloso e Gilberto
Gil (na música), Zé Celso Martinez Corrêa (no teatro), Glauber Rocha e Rogério
Sganzerla (no cinema), que retomam concepções de Oswald de Andrade e seu
“Manifesto Antropófago” (1928), voltado a uma releitura crítica do passado
colonial do Brasil, a partir da perspectiva de uma “antropofagia cultural”.
Estas distintas noções de Tropicalismo estão em confronto em Pernambuco nos
anos 1990, quando ocorre a “retomada” do cinema pernambucano em consonância com
a eclosão do movimento Manguebeat. A hipótese a ser discutida na comunicação é
que, nesse confronto, a Intermidialidade se constitui como um método capaz de
relacionar criticamente a relação do cinema com outras mídias e com a História.
Nesse sentido, será observada especialmente a figura do “estrangeiro” na tensão
com o “nacional” a partir das relações entre cinema e música, observando-se
especialmente o curta metragem Maracatu,
maracatus (Marcelo Gomes, 1995), entre outras produções de filmes
pernambucanos do referido período.
Albert Elduque (University of Reading): “A canção filmada como relato histórico”.
Albert Elduque é pesquisador pós-doutoral na
University of Reading, onde faz parte do projeto ‘Towards an Intermedial
History of Brazilian Cinema: Exploring Intermediality as a Historiographic
Method’ (IntermIdia). Neste projeto investiga os vínculos entre cinema e música
no cinema brasileiro, especialmente no cinema experimental e nos documentários
contemporâneos sobre música. Sua tese doutoral (Universitat Pompeu Fabra, 2014)
esteve focalizada nos conceitos de fome, consumo e vômito no cinema moderno
europeu e brasileiro. Atualmente é coeditor da revista acadêmica Cinema Comparat/ive Cinema, editada pela
Universitat Pompeu Fabra.
RESUMO: Por causa do vínculo inextricável entre música e
identidade nacional, os documentários sobre música do Brasil possuem uma forte
dimensão histórica, formada por múltiplas camadas temporais que criam
curtos-circuitos entre passado e presente e constroem, assim, uma história
própria. Nesta comunicação queremos fazer uma aproximação geral aos vínculos
entre música brasileira e história nacional partindo do filme Cartola – Música para os Olhos (2007),
de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda, que usa as canções para narrar tanto a vida
do cantor como os acontecimentos do Brasil, entrelaçando assim uma história
pessoal e uma história coletiva. Interessa-nos analisar este vínculo, assim
como as duas formas que nele tomam as canções: uma usa as imagens e as
gravações de arquivo para montar as
canções, com a proliferação visual de materiais prévios; a outra mostra
cantores que interpretam as letras de Cartola, e a canção é, simplesmente, filmada. Cria-se assim um cruzamento
entre duas tendências do documentário musical brasileiro, ambas com uma
evidente dimensão histórica. Assim, por um lado existe uma linha que
reinterpreta as imagens de arquivo com as canções, uma revisão que vai além da
funcionalidade e chega a limites experimentais, como aqueles atingidos por
Rogério Sganzerla em Isto é Noel Rosa
(1990) ou Júlio Bressane nas ficções ensaísticas Tabu (1982) e O Mandarim
(1995). Pelo outro, em muitos dos documentários os cantores interpretam canções
de músicos que admiram, estabelecendo assim a escritura de histórias geracionais
sem precisar de outras imagens, numa linha fértil que desemboca na intimidade
vocal das estrelas (Maria Bethânia,
Pedrinha de Aruanda [2007], de Andrucha Waddington) ou na radiografia
social e cultural do povo (As canções
[2011], de Eduardo Coutinho). Cartola –
Música para os Olhos é um cruzamento entre ambas as linhas e serve como
ponto de partida para se aproximar a elas. Em todos os casos, seja com a
erupção visual ou com a austeridade da voz, a História desenha-se através das
canções filmadas.
12:20| Comunicação por convite: (apresentação de Sandra Boto)
Mirian
Tavares (FCHS/CIAC):
“O Processo do Rei – a História revisitada”.
Professora
Associada da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve.
Com formação académica nas Ciências da Comunicação, Semiótica e Estudos
Culturais (doutorou-se em Comunicação e Cultura Contemporâneas, na
Universidade Federal da Bahia), tem desenvolvido o seu trabalho de investigação
e de produção teórica em domínios relacionados com o cinema, a literatura e
outras artes, bem como nas áreas de estética fílmica e artística. É,
atualmente, diretora da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais e Coordenadora
do CIAC, Centro de Investigação em Artes e Comunicação.
RESUMO: Nesta comunicação
vou analisar o filme O Processo do Rei (1989), de João Mário Grilo. Baseado no
processo contra D. Afonso VI, o realizador conseguiu ser fiel ao tempo
histórico – século XVII -, mas também profundamente contemporâneo, explorando
aspectos eternos e cíclicos da própria História. O cinema, neste filme,
funciona como um palco onde a História revela a cenografia que os livros
costumam ocultar. Para a profundar esta questão começo por discutir as relações
entro o cinema e o teatro a partir do conceito de mise en scéne. O que aproxima
e distancia estas duas formas artísticas? De que maneira o cinema, ao longo da
sua história, construiu a sua própria mise en scéne recorrendo, sobretudo, à
montagem?
13:00- Pausa para almoço
14:30 | Keynote speaker (apresentação de Sara
Fernandez)
Miguel Real
(CLEPUL): “O Romance Histórico Português. Do
romantismo ao século XXI".
Professor de Filosofia no Ensino
Secundário e especialista em Cultura Portuguesa, possui uma vasta obra dividida
entre o ensaio, a ficção e o drama, tendo recebido o Prémio de Revelação nas
áreas da Ficção e do Ensaio Literário da Associação Portuguesa de Escritores, o
Prémio Ler/Círculo de Leitores, o Prémio da Associação dos Críticos Literários,
o Prémio Fernando Namora da Sociedade Estoril-Sol e finalista do Prémio de
Romance e Novela da APE, e do Prémio SPA Autores.
Investigador do CLEPUL – Centro de
Literaturas e Culturas Europeias e Lusófonas, Miguel Real tem publicado
diversos ensaios sobre temas relativos à cultura portuguesa. Da sua vasta
bibliografia destacamos alguns títulos essenciais para uma melhor compreensão
da cultura e literatura portuguesas dos últimos dois séculos:
- Geração de 90: Romance e Sociedade
no Portugal Contemporâneo (Campo das Letras, 2001)
- O Pensamento Português
Contemporâneo 1890-2010 - O Labirinto da Razão e a Fome de Deus (INCM,
2011)
- Introdução à cultura portuguesa:
Séculos XIII a XIX pref. Guilherme d'Oliveira Martins (Planeta, 2011)
- O Romance Português Contemporâneo:
1950-2010 (Editorial Caminho, 2012)
- Portugal: Um País Parado no meio do
Caminho (2000-2015) (Dom Quixote, 2015)
15:30 | Mesa
2 (moderação de Mirian Tavares)
Ana Alexandra Carvalho
(FCHS/Clepul): “Mariana Alcoforado, personagem histórica, mítica e romanesca”.
Doutorada em Literatura Francesa,
Professora da UAlg, Investigadora do CLEPUL e colaboradora do CIAC. Trabalha
nas áreas das Literaturas e Culturas Francesa e Comparada, Estudos Literários, Estudos de Tradução,
História da Leitura e Estudos sobre o Fantástico e a Ficção Científica. Tem numerosas
publicações dispersas em revistas e atas, bem como vários livros: O Jogo do
Desejo em Claude Crébillon (2003); Aventuras d’Escrita(s) (2004,
coautoria); Retóricas (2005, cocoord.); Viagens sentimentais pelo
País da Literatura (2005); Outras Retóricas (2006, cocoord.); Ensaios
& Outros Escritos (2008, coautoria); O Jogo no Jogo (ed. 2008);
O Silfo (2008, tradução).
Carina
Infante do Carmo (FCHS/Centro de Estudos Comparatistas da F.L.U.L): “Voltar à Guerra
da Restauração e contá-la de outra maneira”.
Professora
Auxiliar da Universidade do Algarve. Membro do Centro de Estudos Comparatistas
da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Publicou Adolescer em Clausura. Olhares de Aquilino,
Régio e Vergílio Ferreira sobre o Romance de
Internato (1998), A Militância
Melancólica ou a Figura de Autor em José Gomes Ferreira (2010), e
co-organizou com Paula Morão Escrever a Vida -
Verdade e Ficção (2008); com Violante Magalhães os nºs. 6 e 7 da
revista Nova Síntese sobre Manuel da
Fonseca (2011) e Alves Redol (2012). Tem artigos publicados em periódicos e outras edições sobre literatura
portuguesa moderna e contemporânea, sobretudo sobre neo-realismo e literatura autobiográfica.
RESUMO: Uma cidade
sitiada e ocupada pelo exército
espanhol, num dos momentos mais decisivos da Guerra da Restauração, a
Batalha do Ameixial (1663), faz
de Évora e os Dias da Guerra (1991),
de Mário Ventura, um dos romances mais relevantes (e esquecidos) do pós-25 de
Abril. Integra a vaga romanesca dos anos 1980-1990 que entre nós reviu a
memória colectiva portuguesa e dialogou com esse novo tempo democrático,
entretecendo a factualidade histórica nas malhas da ficção e na consciência
auto-reflexiva da escrita literária. Aqui estamos longe da heroicização e
manipulação autolegitimadora com que o salazarismo reconstruiu aquele período
crítico e árduo de restauração da independência nacional. Évora e os Dias da Guerra apresenta não apenas a luta desesperada
de ambos os lados da contenda mas também a relatividade das versões da História
e a impossibilidade de recuperar o passado tal
como foi, o que beneficia o sentido não contraditório de historicidade e
intemporalidade das personagens. O testemunho do narrador e protagonista
introverte a realidade representada e inscreve a sua humanidade confusa e tensa
num impressionante fresco colectivo. O entrecho do romance, entretecido por
cartas e registos pessoais do eu-narrador,
tornam a sua narração num acto contínuo de autojustificação e de luta pela
sobrevivência perante o futuro; para lá da sua circunstância clandestina,
angustiada e dúbia de cronista-espião, impossibilitado de se explicar perante
os contemporâneos.
J.J. Dias Marques (FCHS): “Oscar Wilde Detetive: os Romances
Policiais-históricos-queer de Gyles
Brandreth”.
J. J. Dias Marques é doutorado em
Literatura Oral pela Universidade do Algarve, onde é professor auxiliar.
Desde 1980,
tem-se dedicado à recolha e estudo da literatura oral portuguesa, nomeadamente
do romanceiro. Sobre este género publicou numerosos artigos e a ele dedicou a
sua tese de doutoramento (A Génese do Romanceiro do Algarve de Estácio
da Veiga, 2002). Nos últimos anos, tem-se dedicado também ao estudo de outros
géneros orais, nomeadamente das lendas.
É coordenador
do Centro de Estudos Ataíde Oliveira e diretor
da revista Estudos de Literatura Oral. É, por eleição, membro associado
da Folklore Fellows Network.
É um grande apreciador da literatura
policial.
RESUMO: A minha comunicação
debruçar-se-á sobre a série de romances intitulada “Oscar Wilde Murder
Mysteries”, de Gyles Brandreth. Trata-se de seis romances publicados entre 2007
e 2012, que têm como personagem principal Oscar Wilde e se passam em finais do
séc. XIX.
Partindo sobretudo da análise do
primeiro e do último romances da série (Oscar Wilde and the Candlelight
Murders e Oscar Wilde and the
Murders at Reading Gaol), tentarei mostrar como os “Oscar Wilde
Murder Mysteries” pertencem ao subgénero
do romance policial e, ao mesmo tempo, ao subgénero do romance histórico.
Referirei também os aspetos de temática queer
presentes nestas obras.
16:40- Pausa para café
16:50 – Mesa
3 (moderação de Ana Soares)
Sara Vitorino Fernandez (Clepul): “Plus
Ultra: o retrato de Carlos V e dos Habsburgos no romance A Senhora, de Catherine Clément”.
Doutorada
em Literatura, nas áreas do Pós-Modernismo e Metaficção na Literatura
Portuguesa Contemporânea, pela Universidade do Algarve (2014), Mestre em
Literatura Comparada (UAlg/2005) e Licenciada em Estudos Portugueses – Ramo
Científico, com especialização nas áreas de Literatura Comparada e Cultura
Medieval (UAlg/2002). É investigadora do CLEPUL, tendo publicado vários artigos
em revistas e volumes de atas. Possui uma coluna permanente na revista suíça Lusitania
Contact denominada “Escritores Portugueses”, onde escreve sobre temas e
autores da Literatura Portuguesa.
RESUMO: As figuras
históricas do Imperador Carlos V, de Maria da Hungria e do Arquiduque
Maximiliano de Habsburgo são caracterizadas pelos historiadores como
personagens dotadas de grande gravidade e de de suma importância para a
História Universal. No entanto, e através da ficção narrativa, Catherine
Clément, no romance A Senhora (1992),
essas mesmas personagens adquirem uma dimensão emotiva e humana. À luz da
teoria do Novo Romance Histórico e da Metaficção Historiográfica trataremos de
analisar de que forma as figuras históricas descem do seu pedestal político,
histórico e social para ganharem uma densidade
psicológica diferente, acusando emoções, medos ou questões que não conseguimos
filtrar através dos livros de História.
Gaia
Bertoneri (Universidade
de Génova / Universidade de Turim)
“O cinema na literatura: para uma crítica visual
da obra literária de Ana Teresa Pereira”.
Doutoranda
em Digital Humanities
(Universida de Génova e Turim), ocupa-se da aplicação do conceito
de visual studies à literatura portuguesa contemporânea e em particular
à obra da autora Ana Teresa Pereira. Em 2013 concluiu o mestrado em Tradução
com a tese Trabalhar no escuro: tradurre Ana Teresa Pereira. Ensina
desde o ano lectivo de 2014/2015 Língua portuguesa no curso de “Scienze della
Mediazione Linguistica” no departamento de línguas e literaturas estrangeiras e
culturas modernas da Universidade de Turim. É membro na qualidade de “jovem
investigadora” do Centro de Investigação CLEPUL/Universidade da Madeira. Faz
parte do comité de redacção da revista luso-italiana de estudos comparados Submarino
e colabora com a revista online RiCognizioni. Traduziu para italiano os romances La regina Ginga (2016, no prelo) de José
Eduardo Agualusa, L’estate selvaggia dei
tuoi occhi (2015) de Ana Teresa Pereira bem como os contos “Uns braços”,
“Cantiga de esponsais” e “Trio em lá menor” de Joaquim Maria Machado de Assis
para a antologia Galleria Postuma e altri
racconti (2016, no prelo) e vários contos das antologias do conto
português contemporâneo Bestiario Lusitano (2014) e 12 Mesi a Funchal
(2008).
RESUMO: Ao aplicar
os visual studies à obra de Ana Teresa Pereira, pretende-se analisar a ontologia da personagem a
partir do dispositivo cinematográfico global. Como no estudo da arte pictórica,
podemos recorrer à técnica do reflectograma infravermelho para descobrir as
figuras reflectidas nas personagens pereirianas: A. Hepburn, J. Fontaine, K.
Novak.
Maira Zénun (Universidade Federal de Goiás): “Idrissa
Ouedraogo – um contador de histórias de outros
tempos”.
Entre 2001 e 2004, cursou bacharelado em Ciências Sociais, pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em 2005, ingressou no Mestrado
em Sociologia, pela Universidade de Brasília (UnB), com a dissertação “Os
intelectuais na terra de Vera Cruz: cinema, identidade e modernidade”. Desde
2007, mantém trabalho autoral, com imagens e textos poéticos, exposto em coleção
privada, publicações impressas e blogs virtuais. Entre 2007 e 2014, lecionou
Sociologia para o Ensino Médio, e Antropologia e Sociologia para o Ensino
Superior, no Distrito Federal/Brasil. Em 2014, ingressou no curso de Doutorado
em Sociologia, pela Universidade Federal de Goiás (UFG), sob a orientação do
Prof. Dr. Manuel Ferreira Filho, como bolsista CAPES. Deste então, desenvolve
projeto de pesquisa que aborda a discussão sobre imagens produzidas a partir de
uma estética de autorrepresentação de culturas negras africanas. Em 2015,
realizou com a Profa. Dra. Catarina Alves Costa, estágio pelo Programa
Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE/CAPES), vinculada ao Centro em Rede de
Investigação em Antropologia (CRIA), na UNL. Entre 2010 e
2015, participou como investigadora e produtora de imagens, do TRANSE/UnB -
Núcleo Transdisciplinar de Estudos sobre a Performance. E desde 2014, colabora
com o FICINE - Fórum Itinerante de Cinema Negro. Ambos grupos de pesquisa
vinculados ao Conselho Nacional Científico e tecnológico (CNPQ), no Brasil.
Possui publicações e participação em eventos nas áreas de Ciências
Sociais/Humanas, Artes Visuais, Cinema, Fotografia e Performance."
RESUMO: Durante
os séculos XVI, XVII e XVII, alguns países da Europa, entre eles Portugal,
foram responsáveis por implementar o colonialismo em grande parte do continente
africano. Como não poderia deixar de ser, e escorada na versão única da
História da Humanidade, escrita sob os alicerces teórico-metodológicos da
colonialidade, a literatura moderna pouco nos conta sobre como era a realidade
das sociedades africanas, antes e ao longo do processo colonial – cenário que
também é de muita luta e resistência. Entretanto, sobre essa questão, parece
bastante interessante como o cinema tem corrigido este enorme equívoco, nos
contando aos poucos, alguns detalhes sobre esse vasto período histórico,
retratando outras formas de organização social e práticas de grupos que não
existem hoje em dia. Deste modo, para este paper, trago a baila, uma leitura sociológica
sobre dois dos filmes dirigidos por Idrissa Ouedraogo, onde o cineasta
reescreve o passado, cria novas imagens e se torna também um historiador.
Trata-se, no caso, de um importante realizador burquinabé, ganhador de muitos
prêmios em eventos africanos e europeus. Dentre eles, o Prix Étalon de
Yennenga do FESPACO – Festival Pan-Africano de Cinema e Televisão de
Ouagadougou. Maior e mais antigo ritual africano que celebra o cinema como uma
importante forma de auto afirmação identitária, inaugurado logo após as lutas
anti coloniais. São eles, Yaaba (Grandmother), de 1989, que narra
episódios sobre a relação entre uma criança e uma ansiã. E Tilaï (The
Law), de 1990. Sobre um truncado caso de amor, impossibilitado de se realizar,
em função de questões que relacionam as normas às formas de parentesco. Ambas
obras de arte produzidas sobre histórias universais, apesar de essencialmente
africanas e desatreladas dos problemas gerados pelo colonialismo. Capazes de
nos remeter a um tempo anterior, deslocado da conflituosa relação entre a
Europa e a África, entre os séculos XVI e XVIII. Idrissa Ouedraogo é aquele
tipo de cineasta que conseguiu trazer para as telas, recordações de uma espécie
de educação noturna, a qual teve acesso quando era criança. Transformando os
seus filmes em instrumento pedagógico no ensino da História Mundial.
17: 50 | Comunicação por convite (apresentação Ana Carvalho)
Doutorada em Teoria da Literatura pela Universidade
de Lisboa (2003) e Professora na Universidade do Algarve desde 1996,
tem tido a seu cargo, ao longo dos anos, disciplinas das áreas de História
do Cinema, Teoria da Imagem, Estudos Culturais, Literatura e Cinema, e, quase
ininterruptamente, Literatura Inglesa. Desenvolveu pós-doutoramento no Programa
em Teoria da Literatura da Faculdade de Letras de Lisboa, como bolseira da FCT
(2009 e 2010). É membro integrado do CIAC. Tem publicado artigos e orientado
seminários em várias universidades, nacionais e internacionais, sobre cinema,
nomeadamente português. É membro fundador e foi a primeira presidente da
AIM - Associação de Investigadores da Imagem em Movimento. Desempenhou funções
no Ministério da Educação e Ciência (2011-2012) e no Camões - Instituto de
Cooperação e da Língua (2013-2014). Traduziu, com Merja de Mattos-Parreira, a
epopeia finlandesa, Kalevala (ed. Dom Quixote, 2013) e tem
publicado outras traduções literárias, de autores estrangeiros para língua
portuguesa e nacionais para língua inglesa.
RESUMO: Os séculos XVI e XVII são férteis em alterações,
algumas de grande brusquidão, na sociedade inglesa. Após o fim da era
isabelina, o aparente recuo de medidas que restringiram, por exemplo, o furor
da criatividade teatral, pode entender-se no seu reverso: a dinâmica de viagens
e de novos conhecimentos científicos fazia exigir nomenclaturas inusitadas e,
acima de tudo, a invenção de narrativas. A arte literária - acostumada ao
lirismo até quando este, acusado de falsaria e artificialismo, se revoltava -
renegava a prosa, relegava-a para os cronistas e legisladores. Os quotidianos,
porém, avolumavam-se em surpresas e chamavam um tempo menos contado, em que as
síncopes dos versos cedessem a fronteira da página e a prosa adentrasse, por
fim, o reino altaneiro da poesia.
18:30 -
Encerramento 1º dia
2º dia (Auditório
Teresa Gamito)
9:30 |Abertura
9:35 | Mesa
4 (moderação de Bruno Silva)
Natália
Laranjinha (CIAC): “A abordagem
fílmica da Controvérsia de Valladolid”.
Natália Laranjinha é licenciada em
Filosofia pela Universidade Nova de Lisboa e em Línguas e Literaturas modernas
– variante português/francês; Mestre em Literatura Francesa e Doutorada em
Literatura Comparada pela Universidade de Lisboa. Terminou em 2015 um
pós-doutoramento em cinema na Universidade de Nova Iorque e CIAC com um projeto
intitulado Pathos e superfícies em Lars
von Trier. Foi docente do Instituto Superior Dom Afonso III, diretora do
curso em Línguas e Assessoria de Gestão, do centro de línguas e fundadora da
revista Inter-artes. E autora de
vários artigos sobre literatura e cinema. Os seus interesses centram-se nas
questões da representação não mimética, nas figuras do fracasso e nas emoções.
RESUMO: Em 1550, o rei de Espanha Carlos V convoca um
debate no Colégio de São Gregório, em Valladolid, para debater o estatuto dos
Índios do Novo Mundo. Perante um júri, dois intelectuais foram convocados para
esta discussão: Juan Ginés de Sepúlveda e Bartolomeu de Las Casas. O tema
principal poderá resumir-se as seguintes questões: os Índios são seres livres
ou escravos naturais? Os Índios têm alma? A controvérsia de Valladolid foi o
primeiro debate, na história europeia, sobre os direitos dos povos colonizados
e teria repercussões importantes do ponto vista antropológico e do direito
humano.
O
debate tece-se entre os dois adversários, o dominicano Las Casa, defensor dos
Índios e o teólogo Sepúlveda que defende a escravização dos Índios. A
argumentação de Sepúlveda apoia-se na filosofia de São Tomas de Aquino e na de
Aristóteles, principalmente, na sua análise da escravidão exposta na Politica. Em oposição, Las Casas
apresenta uma contra-argumentação baseada em postulados humanistas e argumentos
do direito natural. O debate condensa-se num exercício retórico, constituído
por silogismos, onde questões tais como a legitimidade (ou não) da guerra, a
relação com o Outro (e as suas diferenças), a barbárie e a evangelização são
abordadas.
Em
1992, estreia um filme francês de Jean-Daniel Verhaeghe (La controverse de Valladolid), o argumento foi escrito em peça de
teatro por J.C. Carriere e o romance histórico do mesmo autor seria publicado
igualmente em 1992. O filme pretende dar a conhecer ao grande público um debate
histórico fundamental, ao fazer reviver as mentalidades da época e as tensões
do debate. No entanto, o cineasta adapta a realidade histórica à linguagem
cinematográfica, alterando e reajustando alguns factos históricos. De igual
modo, a representação do Imperio colonial, através da filmagem de um debate,
obrigou o cineasta a reduzir drasticamente as cenas exteriores, de forma a
concentrar-se nos argumentos e nas emoções das personagens.
Propõe-se
uma análise do filme na
sua relação com a verdade histórica, os recursos escolhidos pelo cineasta para
representar no cinema um debate e as questões antropológicas e teológicas
discutidas e, por fim, as consequências surpreendentes do debate na Europa do
sec. XVI.
William
Pianco (CIAC): A
Alegoria Histórica em Cristovão Colombo- O Enigma, de Manoel de Oliveira.
Bolsista
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES (Brasil)
– pelo Programa de Doutorado Pleno no Exterior. Doutorando em Comunicação,
Cultura e Artes pela Universidade do Algarve, Faculdade de Ciências Humanas e
Sociais / Centro de Investigação em Artes e Comunicação. Mestre em Imagem e Som
pela Universidade Federal de São Carlos (Brasil, 2011). Graduado em Comunicação
Social pela Universidade Cruzeiro do Sul (Brasil, 2006). É autor de diversos
artigos, capítulos de livros e comunicações em veículos especializados e em
congressos das áreas do Cinema e do Audiovisual. Membro da Associação dos
Investigadores da Imagem em Movimento – AIM. Membro do Grupo de Estudos Sobre
História e Teoria das Mídias – Cinemídia (Brasil). Seu campo de investigação
está concentrado no cinema português, com ênfase na obra de Manoel de
Oliveira.
RESUMO: Seja com o projeto expansionista português, passando pelo
fracasso de Alcácer-Quibir (Non, ou a vã
glória de mandar, 1990), partindo da coroa dual na Península Ibérica (O sapato de cetim, 1985) até o processo
da Restauração da monarquia em Portugal (Palavra
e utopia, 2000), ou mesmo indagando os motivos que inspiraram o rei Dom
Sebastião à malfadada luta contra os mouros em África (O Quinto-Império, ontem como hoje, 2004), os séculos XVI e XVII, de
fato, são da predileção de Manoel de Oliveira quando o seu cinema busca refletir
a história nacional.
No
entanto, se os exemplos acima enquadram-se dentro dos chamados “filmes de
época”, há ainda o estimulante caso de Cristóvão
Colombo – o enigma (2007), que, por meio da investigação científica de seu
protagonista, remete a episódios históricos para debater a condição geopolítica
de Portugal no contemporâneo. Ou seja, com o título em questão, Oliveira assume
como método de reflexão o olhar para o passado como maneira de lançar luzes
sobre o presente.
Cristóvão
Colombo – o enigma conta a história de Manuel Luciano, que, nascido em
Portugal, migra para os Estados Unidos ainda jovem, retorna à terra natal para
formar-se em medicina e, paralelamente à esta profissão, dar sequência à
investigação que é tema de uma pesquisa que ele empreende ao longo da vida:
comprovar que Cristóvão Colombo era português.
De
forma sintética, pode-se afirmar que o filme tem como objetivo último debater a
nacionalidade de Colombo (como português, no caso) de modo a sugerir o desejo
de reafirmar Portugal como o “descobridor” de todos os continentes do mundo: a
figura do navegador como fundador da América do Norte conota implicações de
Portugal como precursor de um poderio contemporâneo – os Estados Unidos.
Dessa
maneira, com esta comunicação pretendo debater e apresentar elementos que
demonstrem como Manoel de Oliveira utiliza a Alegoria Histórica, no filme em
questão, como estratégia retórica na avaliação da relevância de Portugal para a
história mundial, com ênfase no Ocidente, dentro de um processo iniciado nos
finais do século XV, mas que conhecerá suas consequências nos períodos
subsequentes.
Jorge
Carrega (CIAC):
“Romance Histórico e Cinema Transnacional na Europa Mediterrânea: Alexandre Dumas
e o filme de cape et d'épée”.
Doutor
em Comunicação, Cultura e Artes e Mestre em Literatura Comparada pela
Universidade do Algarve. Investigador do CIAC-Centro de Investigação em Artes
e Comunicação. Lecionou as disciplinas de História do Cinema, Cinema
e outras Artes (UAlg), História e Cultura Portuguesa e Recursos
Culturais (INUAF). Organizou várias exposições e conferências sobre cinema
e publicou diversos livros e artigos em revistas académicas, destacando-se Elvis
Presley e o Cinema Musical de Hollywood (2009), O Euro-Western: uma
visão europeia do mais americano dos géneros cinematográficos (2014), Orson
Welles y el cine de Hollywood en la década de 1940 (2015) e O Cinema de
Ray Harryhausen: efeitos especiais e maneirismo no cinema de Hollywood (2016).
RESUMO: A emergência da imprensa de massas, em meados
do século XIX, permitiu que autores como Alexandre Dumas e Paul Féval conquistassem
um vastíssimo número de leitores em toda a Europa ocidental. Influenciado por
Walter Scott, Dumas assinou uma serie de romances históricos de aventuras que mereceram
mais de uma centena de adaptações cinematográficas, dando origem ao chamado
filme de cape et d’epeé. Esta
comunicação procura analisar a influência do romance histórico de aventuras e,
em particular a obra de Alexandre Dumas, no desenvolvimento do cinema
trasnacional da Europa mediterrânea.
10:45 | Pausa para café
11:00 | Mesa
5 (moderação de Adriana Nogueira)
Marisa
Mourinha
(Università degli Studi di Perugia: “Paraísos perdidos: do Tabu de
Murnau ao Tabu de Miguel Gomes”
Marisa
Mourinha nasceu em Lisboa, onde se licenciou em Filosofia na Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa, tendo-se especializado nas áreas da Estética
e da Filosofia Portuguesa. Mais tarde, na mesma instituição, concluiu a
pós-graduação no Programa de Literatura Comparada, preparando agora um
Doutoramento no mesmo programa, com um projecto sobre a tradução de António
Lobo Antunes. Desde setembro de 2011, é leitora de português na Università
degli Studi di Perugia.
RESUMO: Nos últimos anos, têm vindo a público em Portugal obras de
ficção que convidam a um novo olhar sobre o período colonial, como foi o caso
do Caderno de Memórias Coloniais de Isabela Figueiredo ou do romance O
Retorno, de Dulce Maria Cardoso. Em 2012 sai Tabu, de Miguel Gomes.
Filmado a cores e a preto e branco, foi um sucesso de público desde o início, e
foi considerado um dos dez melhores filmes do ano pelos Cahiers du Cinéma.
A
história de amor de dois jovens é o pretexto para uma incursão na África colonial
portuguesa. Constituído por duas partes distintas, uma no presente e outra num
longo flashback para a época em que os amantes, agora velhos, se conheceram, Tabu
joga com a memória e a nostalgia, com um olhar crítico, sublinhado pela ironia.
Numa
clara referência ao clássico de Murnau com o mesmo nome, Miguel Gomes
convida-nos a considerar a crueldade latente no paraíso perdido do
império colonial, evocando aqueles que outrora foram os clichés de um género,
agora completamente ultrapassado, o da nostalgia de uma África colonizada. A
uma primeira parte sonora, passada na moderna Lisboa, segue-se uma segunda
parte muda, narrada em off, e filmada a preto e branco num Moçambique
colonial e idílico, onde desfilam, privados do som, os colonos brancos e os
respectivos mundos.
Embora o
realizador declare em entrevistas que o paraíso perdido é a juventude, Tabu
deixa espaço para uma leitura pós-colonial, sobretudo se tivermos em conta o
diálogo que estabelece com a obra de Murnau, um filme de 1931 (cujo subtítulo é
“Uma história dos mares do sul”) em que o realizador nos apresenta a sua
própria visão nostálgica de paraísos perdidos – mas ao contrário: o
filme de Murnau é uma elegia ao bom selvagem, e uma reflexão sobre o
choque de civilizações.
Liliana Lopes Dias (CIAC): “The Articulation of Early Modern English and Scottish Queenship on Film”.
Licenciada
em Línguas e Literaturas Modernas-Estudos Portugueses e Ingleses e em Línguas,
Literaturas e Culturas-Ramo de Português e Espanhol. Especializada em Literatura
Comparada na área de Literatura e Cinema. Doutoranda em Comunicação, Cultura e
Artes. Colaboradora do CIAC-Centro de Investigação em Artes e Comunicação da
Universidade do Algarve. Publicou artigos em revistas, livros e outras
publicações científicas.
RESUMO: Cinema
seems to struggle with a balanced idealisation of queenship. Queens are frequently represented either too strong or
too weak, cold-hearted and vile or exaggeratedly good and emotive. Strong
presentations of female power may lead to loss of humanity. Another side effect
of strong representations is the loss of femininity, sometimes making a royal
character grotesque. Weak representations of queenship, that is emotive
depictions, make them failures as queens. Emotions, or rather passions, makes
these women bad and weak rulers, however makes them worthy of empathy from the
audience.
The representations of Elizabeth I, Mary of Scotland
and Mary Tudor confirm that pattern. Mary Tudor never receives a kind
characterisation. When she appears at all in film is to be pictured in an
unsympathetic way. She is presented as a Catholic zealot, a maniac, delusional,
physically and psychologically ill. Mary Stuart is always moved by passions and
reckless behaviours, and, even though sometimes her actions are criminal, she
is always a martyr, a woman full of idiosyncrasies and hardly a villain.
Elizabeth, on the other hand, is a more complex matter. She may be the victim
or the executioner and frequently both; she can be good and/or bad; she can be
emotional or driven by passions, and both. Her character is always full of
shades and contrasts.
Moreover, when these queens are juxtaposed, their
representations tend to be polarised. Mary Tudor only seems to be interesting
in contrast with Elizabeth and is presented as the zealot and delusional
villain. Mary Stuart tends to be the martyr and Elizabeth, by comparison, the
conniving and jealous executioner. Represented alone Elizabeth’s
characterisation can be more balanced and positive, thought she may have
elements of villainy or be the agent that prevents other people from being
happy. In the case of Elizabeth, balance tends to occur when the film focuses
on the ‘body politic' and the historical persona. However, focusing on the
‘body politic’, in detriment of the ‘body natural’, may have a dehumanising,
villainising or sometimes slightly masculinising effect.
11:50| Comunicação por convite: (apresentação de Adriana Nogueira)
João Carlos
Carvalho (FCHS/Clepul): “Crítica Literária e Romance
Histórico: a propósito de Camões – este
meu duro génio de vinganças, de Maria Vitalina Leal de Matos”.
Professor
da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve.
Investigador integrado no CLEPUL e Colaborador do CIAC. É Doutorado em
Literatura Portuguesa Clássica pela Universidade do Algarve (2000), Mestre em
Literatura Portuguesa pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
(1990) e Licenciado em Línguas e Literaturas Modernas por esta última
Universidade (1985). É autor de vários livros, capítulos de livros e outras
publicações científicas, destacando-se títulos como Ciência e Alteridade na
Literatura de Viagens. Estudo de Processos Retóricos e Hermenêuticos,
2003; Ensaios & Outros Escritos, 2008 (em co-autoria); Viajantes,
Escritores e Poetas: Retratos do Algarve, 2009 (em co-coordenação); A
República – Figuras, Escritas e Perspectivas, 2011 (coordenação); A Peregrinação
de Fernão Mendes Pinto e a Perenidade da Literatura de Viagens, E-Book,
2015 (coordenação).
12:45 | Pausa para almoço
14:30| Abertura
14:35-15:45| Mesa
6 (moderação de Sandra Boto)
Isa
Ferreira Lima (Universidade Estadual de Santa Cruz): “POR UM CINEMA DESCOLONIAL – pensar o imperialismo cultural a
partir da "Eztetyka da fome" de Glauber Rocha”.
Graduada
em Cinema e Audiovisual pela UESB de Vitória da Conquista no ano de 2015,
pós-graduanda do mestrado em Letras: Linguagens e Representações da UESC. Tendo
passado por diversos campos durante a graduação, hoje desenvolve pesquisa
dentro da relação cinema e literatura, orientada pela Profa. Dra. Paula Regina
Siega, trabalhando em especial com recepção crítica e cinema brasileiro,
particularmente com os textos-manifestos do cineasta Glauber Rocha. Este
recorte tem sido desenvolvido no entremeio dos campos de interesse da discente,
como direitos humanos, educação e estudos pós-coloniais, vinculados ao cinema e
aos estudos de estética da recepção.
RESUMO: O presente trabalho realiza uma abordagem reflexiva do
texto-manifesto “Eztetyka da Fome”, do cineasta brasileiro e baiano Glauber
Rocha, com base nas teorias descoloniais e anti-coloniais. O texto em questão,
datado de janeiro de 1965, é um dos escritos mais famosos do cineasta, e, como
todo texto glauberiano, é eloquente e severo, sempre crítico; neste texto,
escrito para um discurso em Gênova, na Itália, Glauber Rocha toma a desvalorização
do cinema nacional para falar dos resquícios imperialistas que persistem em
nossa cultura. Esta supervalorização da estética cinematográfica estrangeira
viria apenas como um dos reflexos da dominação cultural que persiste, de acordo
com o teórico Eduard Said, mesmo após a emancipação política. Esta dependência
se realiza em níveis simbólicos e culturais, e é desvelada nas representações
exibidas nos produtos culturais como literatura, televisão e cinema. Assim, as
produções cinematográficas brasileiras, em sua maioria, seriam variáveis entre
dois pólos principais: o da idealização do estrangeiro, mimetizando desde seus
modos de produção até a estética fílmica; e o do exotismo, corrobora uma visão
estrangeira sobre o Brasil a partir do reforço dos estereótipos. O cinema
brasileiro, sempre num destes extremos, jamais se constituiria autêntico
enquanto não se voltasse para sua própria situação de subalternidade. Deste
modo, a fome surge como instrumento de subversão para que o cinema brasileiro
desenvolva uma voz própria: Glauber sugere que o brasileiro se aproprie daquilo
que se impõe como diferença entre a colônia e o império, e a tragédia da fome e
da violência, cuja síntese é a imagem do sertão, vem dar forma a uma nova
estética visual e narrativa que está presente no movimento cinemanovista. Os
textos de Glauber muito nos dizem de seu modo de pensar a prática
cinematográfica enquanto proposta de superação de uma colonialidade a partir de
uma auto-narração que trabalha em favor da estruturação de uma identidade
nacional, tomando o cinema como potência de embate político e apelo social.
Para tanto, este trabalho traz, além de Eduard Said e Stuart Hall, estudiosos
da obra textual e visual de Glauber Rocha e outras referências de estudos
descoloniais que falem de cultura e território.
Claudio Maringelli (FCHS): “Narrativa popular e reflexão política em Manituana, do coletivo Wu Ming”.
De
nacionalidade italiana, moro em Faro desde janeiro de 2015. Em setembro do
mesmo ano iniciei o Curso de Doutoramento em Literatura na Faculdade de
Ciências Humanas e Sociais da Universidade do Algarve.
Antes
disso, em 2013 o Mestrado em Línguas e Literaturas Modernas na Universidade de
Turim. A minha tese de mestrado é intitulada Decolonizzare l’avventura: Los viajes de Juan Sin Tierra, e analisa
desde uma perspetiva pós-colonial o romance gráfico Los viajes de Juan Sin Tierra, de Javier de Isusi. Foi publicada na
revista online da Universidade de
Pádua Orillas.
Em
2014, frequentei um curso de especialização em Tradução Literária na Agenzia
Formativa TuttoEuropa, em Turim. Atualmente sou tradutor profissional (de
português, espanhol e inglês ao italiano) e escrevo artigos sobre banda
desenhada no site italiano Fumettologica.it.
RESUMO: Partindo duma análise do projeto artístico do
coletivo italiano denominado Wu Ming, o meu contributo visa analisar o romance Manituana, de 2007, em que é narrada a
Guerra da Independência dos Estados Unidos desde o ponto de vista do povo
Mohawk, que combateu ao lado dos lealistas ingleses contra os independentistas.
Os
Wu Ming têm publicado vários romances históricos nos últimos vinte anos (Q, 1999; Manituana; Altai, 2009; e
L’armata dei sonnambuli, 2014, além
de outras obras publicadas como autores individuais) e propõem um projeto
artístico e político de crítica ao sistema capitalista, que tem como principal
meio de expressão a narrativa histórica, em vários níveis e com várias formas
de comunicação, entre as quais um site muito ativo, wumingfoundation.com.
Neste
contributo tenciono, mais especificadamente, pôr em luz a presença na obra de
aspetos típicos do género aventuroso e da narrativa popular, nomeadamente:
caraterísticas épicas, personagens com que os leitores podem facilmente
identificar-se, técnicas narrativas tomadas do cinema de aventura e dos
videojogos, e um nível relativamente baixo de inferência exigida a quem lê.
Estes aspetos, porém, convivem com outros mais experimentais e complexos, quer
a um nível narrativo quer a um nível de implicações éticas nas escolhas das
personagens.
Esta
dinâmica é identificada por Wu Ming 1 (um dos membros do coletivo) como uma
caraterística de várias obras da narrativa italiana contemporânea: “I romanzi di cui sto
parlando hanno (o almeno cercano) un'efficacia di primo acchito, sono leggibili
e godibili anche senza decrittarne ogni aspetto […] La sperimentazione avviene
nel popular” (Wu Ming 1, New Italian Epic. Letteratura,
sguardi obliqui, ritorni al futuro,
2009). O que tenciono mostrar é como estas caraterísticas aparentemente opostas
sejam, na realidade, coerentes a uma reflexão política, que em Manituana é relativa ao hibridismo
(linguístico e cultural) e ao avance do capitalismo nos primeiros anos da
história dos Estados Unidos. Esta reflexão política liga-se diretamente ao
projeto de intervenção na política e na cultura contemporânea do coletivo Wu
Ming.
João Minhoto Marques (FCHS/CIAC): “Escrever o tempo, construir a
história — estratégias discursivas em Os Memoráveis, de Lídia Jorge”.
15:45: Pausa
para café
16:00-17:10 Mesa
7 (moderação de Filipa Cerol)
Jusciele
Conceição Almeida de Oliveira (CIAC): “De “Guiné dita portuguesa” à República
da Guiné-Bissau: história e cinema nas representações cinematográficas no filme
Mortu nega de Flora Gomes.
Possui graduação em
Letras Vernáculas pela Universidade Federal da Bahia (2006). Especialização em
Metodologia do Ensino de História e Cultura Afro-Brasileiras e Docência do
Ensino Superior (2010). Mestre em Literatura e Cultura, pela Universidade
Federal da Bahia (2013), com a dissertação sob o título "Tempos de Paz e
Guerra: dilemas da contemporaneidade no filme Nha fala de Flora Gomes".
Atualmente, é doutoranda pelo Centro de Investigação em Artes e Comunicação da
Universidade do Algarve CIAC/Ualg, em Portugal sob orientação da Profa Dra
Mirian Tavares, com bolsa da CAPES Doutorado Pleno no Exterior, investigando
cinema guineense e africano, especificamente o cineasta Flora Gomes. Tem
experiência na área de Letras e Cultura, com ênfase em Literatura e Cinema
Africano de Língua Portuguesa.
RESUMO: As relações entre Portugal e o território chamado atualmente de
Guiné-Bissau datam-se desde do século XV, com a chegada de Diogo Gomes na costa
africana, todavia essas relações territoriais, políticas e culturais
intensificam-se a partir de 1879, quando a Guiné-Bissau deixa de ser uma
colônia da colônia, isto é, deixa de ser administrada por Cabo Verde. Mas, as
relações entre Portugal e Guiné-Bissau tornam-se concretas e diretas, depois de
1884-1885, após a Conferência de Berlim, na qual delimitam-se as fronteiras
físicas do continente Africano, como também as fronteiras físicas da
Guiné-Bissau, que no período chamava-se Guiné Portuguesa, para diferenciar da
Guiné Espanhola e da Guiné Francesa. Em 1963, depois de um longo processo de
tentativa de descolonização entre a Guiné e Portugal, deflagra-se a guerra de independência
contra o colonialismo português, que só terá fim em 1974, como o 25 de abril em
Portugal. Nesse sentido, a história de Portugal e da Guiné-Bissau cruzam, por
isto nesse texto, tratar-se-á das questões e relações histórias, culturais e
memorialísticas, a partir da obra cinematografia do cineasta guineense Flora
Gomes, filme Morto Nega
(ficção/1988).
João
Almeida Sobrinho (CEAUP-Universidade do Porto): “Comunidade Quilombola de Conceição
das Crioulas e o audiovisual como auto-registro”.
Licenciado
em História, pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1997-2002).
Bacharel
em História, pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2002-2003).
Bacharel
em Comunicação Social, pela
UFRGS. (não concluído).
Doutorando
em Estudos Africanos, pela Universidade do Porto, Faculdade de Psicologia
e Ciências da Educação, Faculdade de Economia, Faculdade de Letras e Centro de
Estudos Africanos. (2009-atual).
RESUMO: O presente trabalho apresenta alguns resultados do
projeto de investigação que tem por objetivo realizar a análise dos processos
educativos em São Tomé e Príncipe e na Comunidade Quilombola de Conceição das
Crioulas em Pernambuco – Brasil. Aqui, apresento a dimensão que diz respeito à
produção audiovisual da Comunidade Quilombola de Conceição das Crioulas e,
particularmente, a produtora Crioulas Vídeo, que faz parte da mesma. Esta
produção é também a luta pela posse do território em que está inserida e o fortalecimento
da sua identidade como afro-descendente.
Esta dimensão
veio fortalecer, não só a relação entre a ferramenta audiovisual e o
autorreconhecimento como quilombola, mas também, de outras comunidades
quilombolas da região através da promoção de oficinas de produção audivisual
Tankalé (“contar para todo mundo” em yorubá-nagô) em outros quilombos da
região. Nesta apresentação foram
selecionados vídeos-documentários a partir das
actividades de campo que realizei nesta comunidade, em três categorias: a)
produção externa; b) produção quilombola e, c) Projecto Tankalé.
Nas categorias: a) realização externa – Visita ao Quilombo, Direção: Dácio
Bicudo; b) realização Crioulas Vídeo e/ou em cooperação com o movimento
intercultural identidades – Conceição das
Crioulas; História da Escola Professor José Mendes; Hora de Crescer (juventude
e identidade étnica); Artesanato –
Reforço da Identidade Quilombola; e, c) Projeto Tankalé: Formação para o
Auto-registro Audiovisual Quilombola – Comunidades Quilombolas de Livramento; Comunidades Quilombolas de Contendas e Santana e; Território Quilombola Águas do Velho
Chico. Estes
documentários abordam dimensões que estão unidas na vida cotidiana dos
quilombolas.
O presente estudo
revelou a consciência colectiva latente no que diz respeito à identidade
quilombola que estava em alguns aspectos ofuscada pela invisibilidade. A partir
do registro audiovisual esta invisibilidade tornou-se visível e passou a servir
para fortalecer a causa quilombola, estreitar os laços entre as diferentes
comunidades e reconhecer a autonomia destas para que possam contar as suas
próprias narrativas.
Paulo
Nóbrega Serra (Clepul): “Visões do real histórico em Lillias Fraser, de Hélia Correia”.
RESUMO: Nesta comunicação reflecte-se sobre a
importância do realismo mágico como uma importante renovação da ficção. O
realismo mágico é definido em termos da intervenção do maravilhoso numa
narrativa de moldes realistas e contribuiu inclusivamente para uma redefinição
do romance histórico, como é o caso da obra Lillias Fraser, de Hélia
Correia.
Não deixa de ser sintomático o
ressurgimento do romance histórico enquanto género literário em voga mas que,
em autores como José Saramago e Hélia Correia, surgirá aliado ao maravilhoso na
narração de acontecimentos históricos do passado nacional. Ao contrário do que
acontecia com o fantástico que, ao imiscuir-se no real desestrutura a moldura
das conveniências e asserções sociais e ontológicas do ser humano, o
maravilhoso auxilia assim a compreensão das lacunas existentes nas versões
oficiais.
Em Lillias Fraser, a voz
narratorial parece confundir-se com a do autor, e recria um passado histórico a
partir do presente, recriando ou reconstituindo o passado numa narrativa que se
assume como uma efabulação, onde decorrem ainda incursões do mágico. O próprio
passado que se procura resgatar é imbuído de sobrenaturalidade pois é assumido
como mágico, exercendo o fascínio próprio de tudo o que é estrangeiro à época
em que habitamos. A ocorrência do maravilhoso não provoca uma fractura ou
disrupção no real mas enriquece o quotidiano, ao contrário do fantástico que
colocava em causa as leis do mundo natural. Acresce ainda que essa aura de
magia pretende retratar uma mentalidade de época que, in extremis,
acreditava em superstições e crendices que hoje se ultrapassaram (ou talvez
não, mas só em parte). No realismo mágico as leis do mundo real são flectidas,
em que o sobrenatural se configura como uma estratégia que intenta contestar a
ordem socialmente imposta, a autoridade política e os regimes totalitários.
A nossa análise pretende objetivar como
se constrói este novo romance histórico, mediante a consideração de diversos
aspectos textuais: indeterminação do tempo e do espaço, intervenção do
maravilhoso ou dons sobrenaturais conferidos à personagem central. Entra-se
assim no domínio da Metaficção historiográfica: revisita-se o passado;
desconstroem-se se relatos oficiais; nega-se uma visão linear do tempo;
questiona-se a História e o seu discurso oficial enquanto visão imposta por uma
ideologia política e por um regime político. Reformula-se deste modo o padrão
tradicional do romance histórico tradicional do século XIX. A problematização
do conhecimento da História prende-se com a literatura pós-revolucionária, visando
a subversão da verdade de uma História oficial pouco credível. Da mesma forma
que, na descrição referencial, o verosímil é contraposto por uma outra ordem
das coisas através da irrupção do maravilhoso, a referencialidade histórica,
presente em várias ficções do realismo mágico, é feita mediante uma certa
manipulação do referente histórico. O que seria um romance histórico
convencional – como o próprio título indica –, acaba por apontar para uma
reescrita da história através da intromissão da dimensão mágica, onde o outro
(os esquecidos pela História oficial) ganha voz.
A autora Hélia Correia proferiu mesmo em
entrevista não ter feito grande pesquisa histórica para a criação do seu
romance Lillias Fraser. Ainda que Hélia Correia alegue não ser capaz de retratar
o real histórico com precisão, instilando no leitor o verdadeiro espírito de
época, julga-se que, pelo contrário, a evocação do real é assustadoramente
realista, ainda que, curiosamente, seja feita de forma impressionista,
lembrando certos quadros.
17:15 | Comunicação por convite: (apresentação de
Sara Fernandez)
Petar
Petrov (Clepul): "Literatura e Cinema: Diálogos
Possíveis"
Aposentado com
a categoria de Professor Associado com Agregação da Universidade do Algarve,
onde leccionou as disciplinas de Literatura Portuguesa, Literaturas
Estrangeiras de Língua Portuguesa (Brasileira e Africanas) e Literatura
Comparada. Presentemente é co-coordenador da linha 5 do Centro de Literaturas e
Culturas Lusófonas e Europeias (CLEPUL) da Faculdade de Letras da Universidade
de Lisboa. Publicou os seguintes livros: O Realismo na Ficção de José
Cardoso Pires e de Rubem Fonseca, Lisboa,
Difel, 2000, que ganhou o Prémio Revelação da Associação Portuguesa
de Escritores, Aspectos de Literatura Brasileira. Estudos e Antologia e
Comparatismo e Literaturas de Língua
Portuguesa, Sófia, Five Plus, 2006 e 2007, Ficção em Língua Portuguesa.
Ensaios, Lisboa, Roma Editora, 2010. Organizou também os volumes O Romance Português Pós-25 de Abril, Meridianos
Lusófonos e O Conto Português Pós-25
de Abril, Roma Editora, 2005, 2008 e 2012, Lugares da Lusofonia, Lisboa, Colibri, 2010, A Primazia do Texto, Lisboa, Esfera do Caos, 2011, Avanços em…, Santiago de Compostela,
Através Editora, 2012 e As Vozes da
Balada, Lisboa, CLEPUL, 2012 (e-book).
18:00| Sessão
de encerramento
18:30|
Porto de honra
Uma organização do CIAC e do CLEPUL com o apoio
da FCHS/Universidade do Algarve